Caros 5.75 leitores, como sabem, viajar pela Ásia , é um dos meus grandes hobbies, que acabei por ganhar, quase, quase, por acaso. O motivo deve-se, sobretudo, ao facto de gostar de viajar durante um mês inteiro, o que, por vezes, é difícil conciliar com a minha (outra) vida, onde o dinheiro não sai, propriamente, pela janela. Assim, pela segurança, pelo custo de vida, e pelos milhões de sítios incríveis que esta zona do globo tem para descobrir, nos últimos anos, o Oriente tem sido o meu destino de férias.
Para além dos insectos, uma das perguntas que mais me fazem é se vi carne de cão à venda nos mercados. E, até mesmo se experimentei, (humpf). De facto, mesmo apesar de já ter estado duas vezes na China, país famoso pelos festivais, onde os nossos melhores amigos terminam na grelha, nunca tinha visto, porque evitei, sempre, esse tipo de “espectáculo”. No entanto, na minha ultima viagem, no final de 2019, acabei por me deparar, em Sapa, nas montanhas do Vietname, com uma banca, num mercado local, onde se vendia carne de cão. Devo confessar que senti um misto de enjoo com repulsa. Contudo, há que, acima de tudo, tentar compreender os motivos culturais por detrás destes hábitos gastronómicos, ao invés de os julgar, por mais revolta que nos causem.
De facto, segundo evidências arqueológicas, esta espécie é consumida, pelo homem, no Oriente, há, pelo menos, 4500 anos, tendo sido encontrados ossos de cão cozinhados numa escavação no nordeste da Turquia. Contudo, nunca foi um consumo amplo, a nível mundial, já que, esta espécie, sempre teve funções de guarda, ou de pastoreio, vivendo em grande proximidade com as comunidades humanas, ao ponto de adquirir o estatuto de “animal de companhia”.
Actualmente, um dos mais famosos festivais, do mundo, de carne de cão é o Yulin Dog Festival, que acontece, durante o mês de Junho, na China, país onde, anualmente, são sacrificados dez milhões de canídeos e quatro milhões de felinos para alimentação humana. Paralelamente, este hábito estende-se a outros países asiáticos como o Cambodja, o Vietname, a Coreia do Sul, a Mongólia, o Laos ou as Filipinas, onde esta proteína é considerada uma iguaria. Consumida, também, em África, nomeadamente em Marrocos, Moçambique, Mali ou Madagáscar, a carne de cão é, igualmente, legal em nações onde a legislação é omissa, de que podemos destacar o Haiti, Hondutas ou El Salvador, estimando-se que, anualmente, sejam mortos vinte e cinco milhões de animais em todo o mundo.
Para além da proteína a baixo custo, uma das crenças associadas a este consumo, sobretudo na China, onde faz, há mais de 2500 anos, parte dos hábitos gastronómicos da população, é a de que o possui propriedades medicinais, ajudando a aumentar, e a manter, a temperatura corporal durante os meses frios de Inverno.
Felizmente, o papel das ONG tem sido, cada vez mais, activo no sentido de terminar com o uso dos nossos melhores amigos para alimentação humana, até porque, há tantas opções que se tornou, totalmente, desnecessário. Um dos sinais dos bons resultados desta luta é que, em julho deste ano, a província de Siem Reap, no Cambodja, onde se situa o famoso complexo arqueológico de Angkor Watt, o local mais visitado da Ásia, proibiu o sacrifico de cães. Aos poucos, as mentalidades vão evoluindo.
A este propósito, e, antes de terminar o artigo, não posso deixar de partilhar, convosco, a seguinte história: Em Novembro do ano passado, quando visitámos o Laos, fizemos uma visita guiada pelos mercados de comida, e o nosso guia contou-nos, a propósito do consumo de carne de cão no país, que o mesmo só tinha começado há poucas décadas, quando o Vietname invadiu, no ano de 1958, o país, tendo sido os vietnamitas a introduzir este costume alimentar.
Não sei quanto o vocês, caros 5.75 leitores, mas, da minha parte, posso garantir que sou incapaz de tocar no bigode de um cão, que não seja para o espremer e dar beijinhos. Contudo, e por mais que me custe, respeito as tradições alheias, apesar de não as compreender ou aceitar. Neste sentido, partilho, convosco, as fotos que tirei em Sapa, da carne de cão no mercado de rua, deixando-vos a seguinte questão: “Por mera curiosidade, ou, até mesmo, por necessidade, seriam capazes de experimentar?