Caros 5.75 leitores, quando viajo, não procuro carimbos para o passaporte, mas, sim, boas experiências que me façam, por algum tempo, abstrair dos pequenos dramas do dia a dia. Por isso, quando planeámos o Myanmar, achei por bem, alegadamente um tanto ou quanto à revelia do meu Amor, incluir uma atividade que, há muito, queria experimentar: Um workshop de culinária fora do país.
Após uma árdua pesquisa no Tripadvisor, concluí que a melhor opção seria escolhermos a Bamboo Delight Cooking School em Nyaung Shwe, no Inle LaKe. De facto, e como referi na ultima crónica, a visita ao lago estava a ser incrível e super intensa, e, nada melhor para terminar em grande, do que uma boa refeição de comida birmanesa, confecionada por nós próprios. A aula estava marcada para as seis da tarde, e deveria ter uma duração de três horas. Chegámos mesmo em cima do tempo, sob uma chuva torrencial. “Eu devia estar louco quando concordei com esta ideia. Aliás, nem me lembro de termos falado sobre isto”, dizia-me o Luis, meio aborrecido porque detesta cozinhar. “Não estavas louco mas estavas a ver Netflix. Lembro-me perfeitamente de teres anuído com um gesto”, repliquei.
À porta do restaurante, já Leslie, o proprietário, esperava por nós com um aceno e um sorriso rasgado. Estávamos no inicio de Novembro, no final da época baixa, pelo que não haviam muitos turistas, e seriamos só nós e um casal alemão, mega simpático, o Mathias e a Hanna, a participar na sessão.
Para começar, cada um tinha que escolher, dentro das opções disponíveis, quais as receitas que preferia aprender. Assim, o meu amor cozinhou caril de camarão e salada de papaia verde, eu fiz frango com erva príncipe e leite de coco, assim como a clássica salada de chá verde, cuja receita já partilhei aqui e os nossos colegas prepararam salada de flor de bananeira, caril de abóbora, dumplings de arroz de cebola e erva príncipe, e tofu de grão. Tudo absolutamente delicioso.
No decorrer da aula, descobrimos que o nosso anfitrião tinha estudado, até à idade adulta, num mosteiro, onde aprendeu as artes da cozinha. A sua paixão pela culinária, tinha-o levado a inaugurar, em 2013, conjuntamente com a esposa, Sue, o restaurante-escola, tendo recebido, desde então, turistas do mundo inteiro. Com um forte cariz comunitário, 15% dos ganhos eram investidos na educação das crianças locais, os estrangeiros eram convidados a fazer voluntariado, dando aulas de inglês nas escolas do lago. “A isto se chama verdadeiro turismo sustentável”, pensei, feliz, com a escolha.
Outro aspeto super interessante, foi a verdadeira lição sobre cozinha sustentável, na ótica da utilização dos produtos locais e do correto uso de especiarias, e da própria história, e origem, dos ingredientes. Aprendi ensinamentos preciosos que vou, ao longo das próximas semanas, partilhar, convosco, aqui no blog.
Fiquei, genuinamente, com pena por não conseguir, em casa, cozinhar num fogão a carvão ou em frigideiras de metal com a qualidade das que o Leslie tinha, porque fazem muita diferença no sabor dos alimentos. No final, ofereceu-nos sementes de manjericão asiático, mais roxo e aromatizado que o nosso, e deu-nos dicas incríveis sobre como comprar determinados produtos no mercado, e qual o justo preço a pagar pelos mesmos. A aula foi tão enriquecedora que, às tantas, até o meu Amor, estava, genuinamente, a divertir-se.
As três horas passaram a voar, e em menos de nada, tivemos que voltar ao alojamento para arrumar as malas, já que, no dia seguinte, voaríamos de volta para a capital, Yangon, e, daí, para sul. A viagem ainda não ia a meio e eu já não me queria ir embora. O Myanmar estava a superar toda e qualquer expetativa, e o melhor ainda estava para vir. (Não fujam: To be continued).
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