Caros 5.75 leitores, sei que este tópico sai, um pouco, fora do tema do blog, mas não posso deixar de desabafar convosco o quão hipócrita me sinto ao ficar, face à queda do viaduto, em Itália, super consternada, com lágrimas nos olhos, e ignorar, quase por completo, a explosão de uma mina no Paquistão, que já provocou treze mortos, e outras tragédias que tais no mundo dito “subdesenvolvido”. É que, aparentemente, o nosso planeta tem humanos de primeira, e de segunda. Ou, pelo menos, é assim que a comunicação social apresenta as notícias, e nós, inconscientemente, fazemos uma triagem dos assuntos, não em função da gravidade do episódio, mas tendo em conta a sua origem. Por exemplo, se cair um avião e matar duzentas pessoas no Gana, ninguém quer saber. Mas se for um acidente semelhante, em França, onde pereceram dez almas, é certo e sabido que os noticiários vão passar o resto da semana a falar sobre o sucedido, e convidar 63634763 entendidos para dar a sua explicação sobre as causas do desastre. No caso do avião do Gana, só lhe dão mais de dez segundos de atenção se morrer um ocidental. É triste, é hipócrita, mas são, estas, as regras do jogo.
Pessoalmente, não sou diferente do restante rebanho. Quando ocorre um cataclismo num país (dito) do terceiro mundo, apenas paro para ver a notícia se já conhecer ou estiver a ponderar visitar o local. Caso contrário, sigo a minha vidinha sem perder tempo a reflectir sobre o sofrimento daquelas pobres criaturas, ou a definir uma estratégia para ajudar. Agora, se for uma criança raptada na Alemanha, até fico mal disposta só de pensar na dor dos pais, dos avós, dos tios, e dos primos em décimo quarto grau do pobre anjo. Isto para vos dizer, meus 5.75 leitores, que vivemos num mundo oco e hipócrita, em que o valor da vida tem a ver com a origem do passaporte, e não com a dimensão da perda. A pior parte, é que, dizem as estatísticas históricas, não será em cem anos que as mentalidades vão mudar. Por isso, podemos seguir as nossas vidinhas em paz e sossego, até porque o “que não tem remédio, remediado está”. É triste, mas é verdade. Palavra de #lobo.
Crédito da Imagem: BBC News