Crónicas do Myanmar: Um prova de Vinho Francês nos confins do Inle Lake

Caros 5,75 leitores, quando viajamos pela Ásia, nomeadamente por um país tão sui generis como o Myanmar, ainda muito fechado para o turismo, e a tentar ultrapassar as sequelas de uma longuíssima ditadura militar, a última coisa que esperamos é fazer uma prova de vinhos franceses produzidos no Inle Lake. Palavra de honra. É possível prever que aconteça qualquer coisa, desde procissões com elefantes, a cataclismos naturais, mas, beber um maravilhoso Cabernet Sauvignon ou um incrível Chardonnay da região, acompanhados por uns maravilhosos amendoins birmaneses está muito para além da nossa imaginação.

No entanto, podem acreditar: Aconteceu mesmo. E foi incrível. Após o não menos surreral jantar no restaurante do Stan, o maior fã mundial do Eminem, tivemos direito a uma noite tranquila no alojamento local que reservámos através do Booking, o The Green Vally Inn, que, não sendo excecional, era decente e limpo. Também, por treze euros o quarto, com pequeno-almoço incluído, não poderíamos esperar melhor. 

Acordámos frescos que nem uma alface e cheios de vontade de conhecer o lago e fazer coisas. Após uma rápida vista de olhos pelo Lonely Planet e pelo Tripadvisor, concluímos que havia uma experiência imperdível: a prova de vinhos na Red Mountain Estate Vineyard & Winery, uma vinha criada, no ano de 2002, por investidores franceses, que otimiza as condições peculiares dos solos vulcânicos da região para criar um vinho único no mundo. Pinot Noir, Chardonnay, Malbec, Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Tempranillo, Muscat e Roussane, são algumas das variedades que compõem a produção de 120 mil garrafas por ano. 

Localizada mesmo no topo da montanha, a vinha possui uma vista incrível, e é altamente recomendado que se vá ao final da tarde, para observar um dos pores-do-sol, segundo a definição empregue pelo Lonely Planet, mais “dramáticos”,  de todo o Myanmar. E foi o que fizemos. Após sermos roubados pelos moto taxi que nos transportaram, e se aproveitaram da pouca oferta, lá conseguimos chegar, a meio da tarde, para um mais que merecido copo de vinho.

Tal como se pode ver na foto, o menu de degustação inclui quatro variedades distintas, amendoins à descrição, custa cerca de um euro e meio por pessoa, e é feito dentro de um restaurante que também serve refeições. Mesmo à tuga, conseguimos um lugar junto à varanda, com a melhor vista da sala, que ajudou a tornar a experiência num “date” super româtico.

Apesar de Portugal possuir, sem sombra de dúvidas, alguns dos melhores vinhos do mundo, estes foram uma agradável surpresa, sobretudo o “moscato”, mais doce e suave que o nosso moscatel de Setúbal, e o meu preferido. O sabor sublime dos vinhos, aliado à tranquilidade, ao ar puro, ao canto dos pássaros e à beleza dos jardins e da imensa vinha, transformaram, aquele, num momento único, que jamais esquecerei e que recomendo, vivamente, a todos os que visitarem o lago. De facto, mal demos pelo tempo passar e, em menos de nada, o sol já se estava quase a pôr e era hora de voltar, uma vez que a zona não era iluminada e poderia ser perigoso voltar com a noite cerrada. 

Super irritada pela roubalheira da ida, insisti para que descêssemos a montanha a pé para pouparmos algum dinheiro. Ainda para mais, o passeio é bonito e é possível passar por hortas imensas, com beringelas e curgetes em flor, que dão um toque colorido à imensidão da montanha. Contudo, a meio do caminho, e na iminência de escurecer por completo, lá cedemos e acabámos por encontrar um simpático condutor de tuk tuk XL (os que possuem um cabine maior) que, por um euro, nos deu boleia até ao centro da cidade.

Pelo caminho, foi apanhando todas as pessoas que se encontravam à beira da estrada, até não caber mais ninguém, o que tornou a viagem num percurso cómico trágico, já que, se a situação era hilariante e não conseguíamos parar de rir, mas, se carripana virasse, estávamos bem tramados. Infelizmente, não consegui fazer o registo fotográfico, porque tive medo de partir a câmara, mas fica a imagem de quando entrámos e, ainda, estava vazio.

Já em segurança, abrimos o Tripadvisor para escolher um restaurante onde jantar, com a certeza de ainda termos muito que descobrir no lago mágico.  (Não fujam: To be continued). 

Não perca a crónica anterior:

Crónicas do Myanmar: Encontrei o fã N.º 1 do Eminem em pleno Lago (Inle Lake)

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