Crónicas do Myanmar: Descobrir o Inle Lake – Parte III

Tal como havia partilhado na crónica anterior, o Inle Lake é um lugar absolutamente mágico, onde, simplesmente, não queremos que o tempo passe. Mais do que uma simples viagem, acaba por se transformar numa imersão pela própria essência do Myanmar. 

Assim, quando o nosso barqueiro nos levou a um restaurante, onde acabámos por ser estropiados, nem ligámos muito. Apenas tivemos o cuidado de pedir o menu mais barato, e zarpámos em direção à segunda, e mais emocionante, parte do nosso percurso, que incluiu, não só, uma breve passagem pela Casa das Padaung, as famosas “Mulher Girafa” do Myanmar, mas, também, uma merecida visita aos templos mais icónicos do lago. 

A primeira paragem aconteceu no famoso Nga Hpe Kyaung, também conhecido como o “templo dos gatos”, localizado no lado ocidental do lago. Construído no ano de 1853, este mosteiro em madeira é conhecido, não só, pelas dezenas de felinos que aí habitam, mas, sobretudo, pela incrível coleção de estátuas antigas de Buda, executadas a partir dos estilos Shan, Tibetano, Inwan (Ava) e de Bagan. Até há pouco tempo, os animais estavam treinados para saltar, durante as cerimónias religiosas, pelo interior de anéis de metal, “costume” que, felizmente, já terminou, dedicando-se, agora, à ancestral arte da ronha.

Durante a visita, conhecemos um monge muito simpático que era, aparentemente, o “chefe” do templo, o qual tentou comunicar connosco e, aparentemente, explicar o nome dos gatinhos, mas, como não falava inglês, acabámos por não perceber a mensagem. 

Uma vez que as cerimónias do Thadingyut, que é como quem diz, o final do ano lunar budista, ainda estavam a decorrer, apanhámos as celebrações na Shwe Indein Pagoda, no outro extremo do lago. Este complexo de templos antiquíssimos, composto por 1054 estruturas, supostamente datadas entre os século III a. C. e o XVIII d. C., encontra-se rodeado por um famoso mercado de rua, onde é possível comprar comida e souvenirs, sendo um local muito concorrido durante as festividades religiosas. Contemporâneo da chegada do budismo ao Myanmar, terá sido fundado por sacerdotes ao serviço do famoso imperador indiano Ashoka, e necessita, infelizmente, de restauro urgente, já que grande parte das stupas se encontram em avançado estado de ruína.
Foi pena o nosso barqueiro não falar, praticamente, uma palavra de inglês, pois queríamos entender o teor das celebrações, que eram de cariz, notoriamente popular. Acompanhadas por consideráveis quantidades de comida e oferendas, de um lado situavam-se as mulheres, e, do outro, os homens. 
Incluindo várias faixas etárias, a alegria, e a descontração eram notórias. Claramente, aquelas pessoas tinham aproveitado o dia para se abstrair do trabalho e das contrariedades do quotidiano para usufruir do convívio social, pautado pelas celebrações religiosas. Curiosamente, naquele momento, erámos os únicos estrangeiros no templo, o que se tornou um pouco constrangedor, já que, rapidamente, nos tornámos no centro das atenções. 
Apesar da atitude discreta, e de termos, genuinamente, tentado passar despercebidos, foi impossível. Rapidamente, demos um volta pelo complexo, que é, como as imagens mostram, absolutamente espetacular, e voltámos ao cais para procurar o nosso barqueiro que, por aquela altura, já estava hiper mocado por mascar Paan, pelo que, por questões de segurança, decidimos voltar antes do pôr-do-sol, não fosse a canoa virar sem ninguém para nos salvar. 
Com a clara certeza de não termos tido tempo para aproveitar o suficiente, e um enorme aperto no coração por vermos os templos milenares misturados com verdadeiras barracadas, demos uma volta pelo mercado, comprámos alguma comida e pedimos para voltar. 
Afinal, esta era a nossa ultima noite no lago e ainda tínhamos uma experiência incrível para usufruir: Um workshop de comida birmanesa, com um dos Chefes mais famosos da cidade. No entanto, o céu estava cinzento, a chuva tinha começado a cair e não era certo se iriamos conseguir chegar a tempo, e em segurança. 
(Não fujam: To be continued). 

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