Conhecer Xī’ān, a cidade onde terminava a rota da seda

Ao contrário do que se possa imaginar, conhecer a maravilhosa cidade de Xī’ān, situada no centro-norte da China, é muito mais do que visitar o sítio arqueológico dos Guerreiros de Terracota . Localizada no fim da rota da seda, que, já em 200 a. C., ligava o Oriente à Europa, através do transporte de mercadorias exóticas, foi capital do país durante três dinastias: Chin (255 a 206 a.C.), Han (202 a.C. a 25 d.C.), e Tang (618 a 907).  Felizmente, a grande maioria dos vestígios do período áureo da cidade estão intactos, pelo que vale a pena permanecer, no mínimo, três dias para mergulhar no esplendor da China Imperial e da presença islâmica no território. 

O nosso percurso teve inicio nas Antigas Muralhas, datadas de 1370, que se encontram num estado de conservação notável, tendo sido edificadas sob a primitiva fortificação do século VII. Possuindo doze metros de altura, e cerca de catorze quilómetros de extensão, serviam, durante a dinastia Ming, para guardar as riquezas trazidas pelas caravanas da rota da seda. Reconstruídas ao longo dos séculos, é possível percorrê-las durante horas. Por vinte e cinco euros, existe a opção de alugarmos um carrinho de golfe, e, por dez, uma bicicleta, o que é bem mais rápido, e confortável. As muralhas encontram-se recortadas por quatro acessos, protegidos por três torres, cada, tendo sido, originalmente, rodeadas por um enorme fosso. Actualmente, a entrada é efectuada pelo lado sul, o qual possui uma vista maravilhosa sobre a Xī’ān moderna. Nas proximidades, é possível aceder ao posto de informação turística, onde os funcionários falam fluentemente inglês, e são super prestáveis, facto digno de nota num pais como a China. 

A “Pagoda do Ganso Selvagem” (ou Dayanta), é outro local de paragem obrigatória na cidade. Construída em 652 d. C., para albergar os budistas sutras, trazidos da Índia por Xuan Zuang, um monge famoso, que, durante o século VII, viajou pela Ásia, onde recolheu centenas de escrituras religiosas, no ano de 900 d. C., faria parte da muralha da dinastia Tang. Actualmente, é uma das mais importantes de todo o Oriente, e um exemplo único deste tipo de arquitectura. Possuindo 64 metros de altura, distribuídos por sete andares, oferece uma perspectiva incrível sobre a cidade, apesar de a subida ser um pouco difícil, mas muito compensadora. De acordo com a tradição, o nome da pagoda advém da lenda que conta a história de dois monges que procuravam carne para cozinhar, mas sem sucesso. Ao avistarem um bando de gansos selvagens, rezaram a  Bodhisattva para que lhes enviasse um exemplar, e, nesse preciso momento, uma das aves ficou sem as duas asas. Os monges ficaram assustados, e acreditaram que o deus  lhes estava a ordenar que fossem mais piedosos, tendo deixado de comer carne.

No interior, é possível contemplar diversas relíquias trazidas pelas monges durante a rota da seda, e imagens do próprio Buda. Pessoalmente, adorei o excelente estado de conservação dos objectos, bem como a paz e a tranquilidade do ambiente. À sua volta, vale a pena caminhar pelo maravilhoso jardim, repleto de árvores exóticas e de ar puro, que tornam, este, um local único, de visita obrigatória, quer em Xī’ān, quer na própria China. 

Informações Úteis:

Morada: Enci Temple The southern pagoda, Xī’ān, China.

Website: Site Oficial

Horário: 08:30 – 17.30h.

Preço da entrada: Seis euros.

Localizado nas imediações da Pagoda, é obrigatório entrar no Templo Fǎmén, o mais importante da região e um dos mais emblemáticos do país. Construído durante o século II d. C., para acolher o osso sagrado do dedo de Buda, oferecido à China pelo rei Indiano, Asoka, é, diariamente, frequentado por milhares de fieis, pelo que convém visitar o local em silêncio. 

Para além das relíquias de Buda, que, incluem não só o osso, mas, também, uma pegada trazida por Xuan Zuang da Índia, o templo possui uma colecção única, composta por mais de mil de obras de arte, jóias, e adornos datados da Dinastia Tang (618 a 907 d. C.). Escondida, numa cripta, durante mais de um milénio, foi descoberta na década de oitenta do século XX, no decurso de escavações arqueológicas. A existência deste verdadeiro tesouro deve-se ao facto de os Imperadores das dinastias Sui e Tang, terem escolhido Fǎmén como o principal local de culto da China, o que fez com que, ao longo de séculos, os monges tivessem acumulado inúmeras riquezas. No exterior, é possível caminhar por uma avenida com dez estátuas gigantes de Buda, e outras de menor dimensão, a caracterizar cenas do quotidiano, oferecidas ao templo pelo governo chinês. A visita completa demora cerca de três horas, que valem muito a pena, porque consistem numa verdadeira viagem pelo esplendor da China Imperial do I milénio da nossa era.

Informações Úteis:

Morada: Famen ZhenFufeng County  Xī’ān

Website: Site Oficial

Horário: 08:30 – 18.00h.

Preço da entrada: Seis euros.

Uma vez que adoramos templos, não resistimos em visitar, rapidamente, a única estrutura religiosa, budista tibetana, da região: O Templo Guǎngrén. Construído durante o século XVIII, foi totalmente renovado em 1952, possuindo, no interior, uma representação de Sakyamuni (Buda) sob um pedestal da dinastia Tang, réplica de uma outra existente no templo Jokhang, em Lhasa. 

Apesar de estarmos com alguma pressa porque entrámos perto da hora de encerramento, confesso que consegui desfrutar do cheiro a incenso e da boa energia do local. Infelizmente, uma vez que não deixam tirar fotos com flash no interior, não consegui sacar imagens decentes dos altares, o que significa que tenho, obrigatoriamente, que voltar. 

Informações Úteis:

Morada: North-West Road, Lianhu DistXian 710003, China

Website: Tripadvisor

Horário: 08:00 – 18.00h.

Preço da entrada: 2,5 euros.

O nosso segundo dia em Xī’ān começou com a incursão à famosa artéria islâmica da cidade, nomeadamente à Grande Mesquita, símbolo das influências culturais provenientes da rota da seda. Edificada durante o século VIII, é um dos maiores templos religiosos chineses, simbolizando a harmonia perfeita da fusão entre a arquitectura muçulmana com a oriental. Composta por um conjunto de construções recortadas por um magnifico jardim de magnólias, é um verdadeiro oásis de calma e reflexão no epicentro do caos citadino. Orientada a Oeste, à semelhança da Cidade Proibida, em Pequim, ao invés de Meca, denota algumas características tradicionais dos templos chineses, nomeadamente as decorações com animais míticos para manter os maus espíritos afastados.  

Um dos apontamentos mais interessantes do complexo, são as placas com inscrições religiosas, suportadas por duas esculturas de tartarugas gigantes, com um mix de caracteres islâmicos e em mandarim. Apesar de, habitualmente, frequentada por crentes muçulmanos, esta foi a mesquita mais sui generis que visitei, e a única em que não me obrigaram a tapar o corpo ou o cabelo. Pessoalmente, adorei o templo, até porque é um local único no mundo, que, pela sua excepcionalidade, deveria ser classificado, pela UNESCO, como Património da Humanidade. 

Informações Úteis:

Morada: Huajue Alley, Xincheng DistrictXian 710043, China

Website: Site Oficial

Horário: 08:00 – 19.00h.

Preço da entrada: Gratuita.

Não se fica a conhecer, verdadeiramente, a diversidade cultural de Xī’ān sem uma visita ao bairro islâmico. Berço, desde a dinastia Ming, da comunidade muçulmana da cidade, é composto por mais de uma dezena de mesquitas, lojas, restaurantes, e um animado mercado de rua, sendo, de longe, o melhor local da China para comprar souvenirs, e o sítio onde achei que os preços eram mais em conta. Escusado será dizer que enchi a mala de chás, doces, frutos secos, e bijutaria. Enquanto regateava os preços, uma das vendedoras “impingiu-me” um saco repleto de fios por menos de um euro. Lá tive que aceitar, porque a pessoa, também, não é de ferro.  

A gastronomia é outro dos pontos fortes desta zona da cidade, sendo o sítio ideal para experimentar o melhor kebab de cordeiro do mundo inteiro, acompanhado por um delicioso pão tipo pitta, mas de maiores dimensões, e mais tostado. Tivesse eu um estômago maior, e juro que teria passado o dia inteiro a comer. Para além das espetadas, o arroz frito com pickles de couve, o guisado de carneiro, e a sopa de ossos de ovelha, são ,também, iguarias locais altamente recomendadas. 

A nossa estadia na cidade não podia ficar concluída, sem a tradicional cerimonia da prova de chás, considerando a sua reconhecida qualidade. Por cerca de cinco euros, tivemos direito a experimentar seis tipos diferentes, e a aprender um pouco mais sobre as suas características e efeitos terapêuticos. Por exemplo, o chá verdade é excelente para  o coração, enquanto o de ginseng atenua o stress. Em seguida, fomos presenteados com um espectáculo de música tradicional chinesa, acompanhado por chá e bolinhos, que, confesso, foi uma experiência única, que desejo repetir num futuro próximo. 

A visita a Xī’ān foi uma agradável, e intensa, surpresa. Para além da riqueza cultural, é uma cidade limpa, bonita, com séculos de história e património, onde as diferentes religiões se respeitam, e convivem em harmonia. Também o hostel onde ficámos, do qual, infelizmente, já não recordo o nome, é digno de nota. Além de barato, limpo, e com um serviço excelente, revelou-se um óptimo local para trocar experiências com outros viajantes, nomeadamente com a jornalista portuguesa Vera Penêda,  que, mal ouviu falar português, nos convidou para jantar. Viajar é um feliz acaso de coincidências, e o melhor que podemos levar desta vida, sendo a China um país incrível para o fazer. Palavra de #lobo.  

Nota: Não deixem de ler os restantes posts da minha viagem à China, pesquisando Aqui.

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