Como sabemos, as bases da farmacêutica actual, derivam de um conhecimento ancestral baseado nas propriedades curativas de ervas e plantas, usadas, desde sempre, pelos nossos antepassados no combate às maleitas do corpo. Contudo, com o evoluir dos séculos, os denominados “medicamentos” passarem a ser produzidos a partir de elementos químicos, cujos princípios activos, muitas vezes, fazem bem a um sintoma, mas acabam por originar outros dez. Pessoalmente, sempre que se justifica, recorro às denominadas “mezinhas da avó”, como chá de gengibre com casca de cebola, ou canja e sumo de laranja. Quando iniciei as minhas viagens para a Ásia, comecei a interessar-me pelas reconhecidas propriedades curativas das especiarias orientais, nomeadamente das originarias da Índia. Ontem, estava eu a pesquisar sobre as influências da cultura portuguesa na gastronomia mundial, ao nível do propagação de produtos exóticos durante os descobrimentos, e eis que encontro este artigo da autoria de duas investigadoras do Instituto Superior de Saúde Egas Moniz, Ana Maria Pintão e Inês Filipa da Silva. Abordando as propriedades curativos do Açafrão, no combate às doenças neurológicas, e no tratamento, e prevenção, de tumores malignos, caracteriza as suas três variantes, e respectivas aplicações medicinais:
1. Curcuma Longa: Mais conhecida por “Açafrão da Índia”, “Açafrão da Terra” ou “Turmérico”, é uma planta oriunda da Índia e da Ásia Meridional, tendo sido difundida, pelos portugueses, a partir do século XVI. Existem cinco variedades comerciais de Curcuma: China, Bengala, Madras, Malabar, e Bombaim, sendo, na Europa, o tipo de “açafrão” mais consumido, que chega, até nós, por cerca de 23 euros/ quilo. É esta, a especiaria que dá o toque picante, e o tom amarelo, ao pó de caril. Na medicina chinesa, é usada no combate à icterícia, doenças hepáticas, e redução dos níveis de colesterol. Acredita-se ser a grande responsável pela baixa incidência da doença de Alzheimer, na Índia. De acordo com o artigo, para além de um forte antioxidante, é, também, um eficaz agente anticancerígeno, quer na prevenção, quer no tratamento de tumores, e subsequentes metástases.
2. Carthamus Tinctorius: Também denominado por “Açafrão bastardo” , “Açafroa”, ou “Falso Açafrão”, é uma planta originária do Irão, noroeste da Índia e África. Foi trazida de Goa, durante o século XVI, por missionários católicos, para o Alentejo. Cultivada, em pouca quantidade, no sul do nosso país e nos Açores, é utilizada nas famosas receitas de ensopado de borrego e de arroz amarelo, chegando ao mercado por, aproximadamente, 450 euros/ quilo. Das suas flores, extraem-se dois corantes utilizados, desde a antiguidade, na culinária, tinturaria, pintura, e cosmética. Do ponto de vista medicinal, possui uma eficácia significativa no tratamento do colesterol, diabetes, tumores (sobretudo hepáticos), fungos, doença coronária, e reforço do sistema imunitário. A sua elevada concentração de Acido Linoleico Conjugado (CLA), faz com que seja muito utilizada na produção de suplementos para emagrecer.
3. Crocus Sativus L.: Que é como quem diz, o verdadeiro “Açafrão”. Originário da Índia, Balcãs, e Mediterrâneo, foi introduzido, em Portugal, no século VIII, durante a ocupação muçulmana da península. Apelidado de “ouro vermelho”, é vendido, em França, por 30 mil euros o quilo, daí ser a especiaria mais cara do mundo. No nosso país, começou a ser cultivado, recentemente, na Beira, e a sua rentabilidade é muito baixa, já que são necessárias 150 flores para produzir uma grama, que é comercializada a quinze euros. Além do uso alimentar, é utilizado como corante, sendo conhecido, há milénios, por egípcios, gregos, e romanos. Possui uma forte acção enquanto sedativo, e no tratamento de tumores. No entanto, em elevadas quantidades, pode ser tóxico e abortivo. Quando estive na Índia, trouxe cinco gramas de Margão, por um preço muito mais simpático do que o europeu, que guardo num cofre forte, protegido por dois dragões.
O Açafrão, é, pois, um alimento a ter em conta, não só pelo sabor, mas, também, pelas fortes propriedades medicinais no combate a tumores e a outras doenças como o Alzheimer, nomeadamente a sua variante mais barata, a Curcuma, que existe em qualquer supermercado. Fica a dica, 5.75 leitores.
Foto: Açafrão verdadeiro, por Foodntv
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A cúrcuma não é uma variante do açafrão verdadeiro. Cúrcuma é uma raiz que é moida. Açafrão verdadeiro são os pistilos das flores de Crocus Sativus. São produtos muito diferentes, com sabores e aromas e propriedades diferentes. A confusão só existe em Português onde se chama ambos de açafrão.