Caros 5.75 leitores, destralhar a cozinha não é muito diferente do que fazer aquela limpeza épica, de inicio de estação, ao armário. Basta, qual Marie Kondo do fogão e do tacho, inspirar fundo, beijar o chão da casa, rezar três Avé Marias, fechar os olhos, e começar, sem medos, com a seguinte premissa: “Se o Sporting foi campeão, nós também conseguimos”.
Piadas clubísticas à parte, como já referi N vezes no blog, vivo num pequeno apartamento de 70 metros quadrados [mas com uma vista épica para o mar e para a serra], pelo que não me posso dar ao luxo de guardar tralhas de que não preciso. Aliás, para terem uma ideia, mais do que duas pessoas dentro da cozinha, são uma verdadeira multidão, o que, apesar dos pesares, tem as suas vantagens: Nos tempos idos, pré-covid, quando recebíamos visitas, a falta de espaço era uma ótima desculpa para correr com os enxeridos, amigos dos bitaites, que só atrapalhavam os meus cozinhados.
Posto isto, nos últimos anos, tenho, ao máximo, apesar de a tentação espreitar a cada esquina, tentado não acumular objetos de que não preciso. No meu caso, esta missão é especialmente difícil, pois, para além de viver, dentro de mim, um pequeno demónio consumista, adoro cozinhar pelo que os gadgets matam-me.
Porque o esforço tem compensado, partilho, convosco, cinco truques que me ajudaram a destralhar a cozinha, e a optar pelos utensílios e equipamentos, que realmente uso:
1. Esvaziar prateleiras, gavetas e armários: Já dizia a nossa amiga Marie Kondo, que devemos abrir mão de tudo o que não nos trás felicidade [e não estou a falar de sogras, esposas e maridos], pelo que é importante tirar tudo para fora e confrontarmo-nos com a nossa acumulação e com os itens que não nos fazem falta.
2. Vender, doar ou colocar na reciclagem o que não usamos: Embarcou em todas as campanhas dos supermercados para enfeirar máquinas de waffles, pipocas, algodão doce, e todos os utensílios pseudo milagrosos que o irão transformar no Chef Silva? Esqueça. Se nunca os usou, já é tarde para começarem a ser uteis. Pense bem na relevância de cada um e despache o que não precisa.
3. Devolva o que não é seu: Ter pouco espaço, tem as suas vantagens – Sempre que trago uma caixa, travessa ou prato que não é meu, devolvo no dia a seguir. No entanto, conheço gente que coleciona caixas de comida de casa da mãe, da sogra e da tia, juntando, por vezes, um volume assustador. Se é o seu caso, divida por proprietário e devolva. Vai ver que liberta volume na cozinha e na consciência.
4. Deite fora o que está em mau estado e/ou já passou de validade: A minha querida avó, que esteve nas filas de racionamento de alimentos durante a II Guerra, tinha o hábito de comprar toneladas de arroz, massas e outros não perecíveis para, em caso de necessidade, ninguém passar fome. Escusado será dizer que acabavam por se estragar sem ninguém os consumir. Isto, para vos dizer que, de uma forma ou de outra, todos nós temos um pequeno acumulador cá dentro, o que origina a que, por vezes, as embalagens passem de prazo sem darmos conta. De facto, mesmo que estejam na validade, alguns alimentos vão-se deteriorando com o tempo, pelo que é importante gerir stocks e libertar espaço, deitando fora o que já não está em condições para ser consumido.
Por outro lado, é também, recorrente, guardarmos panos de limpeza, embalagens e outros itens que, por faltam de monotorização, se degradam. Quando assim for, liberte espaço e lixo, ou reciclagem, com eles.
5. Retire o que não é útil e/ou não faz parte da cozinha: Medicamentos, papeis, objetos de decoração, caixas, caixinhas e afins, que não têm uma utilidade óbvia, devem ser removidos, pois estão a ocupar espaço inutilmente, a ganhar pó, e a misturar-se com alimentos e utensílios culinários, o que pode, em ultima análise, ser perigoso para a nossa saúde.
Posto isto, 5.75 leitores, esqueçam o “Horror ao Vazio”, limpem as vossas cozinhas, livrem-se do que não vos faz falta, e ganhem um ambiente mais limpo, saudável, sustentável e amigo do planeta, onde cozinhar seja, realmente, um prazer. Vão notar, mesmo, a diferença. O difícil é começar. Palavra de #lobo.
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