Margarida Rebelo Pinto e as gorduras (no cérebro)

Ontem, ao dar uma vista de olhos pelo feed de notícias do meu facebook
deparei-me com este post  do Blog da Tereza  sobre duas crónicas de Margarida
Rebelo Pinto, escritas para o Jornal Sol, dedicadas às “Gordinhas”.
Em ambas esta iluminada escritora do
panorama social português, autora de odes que fariam Camões [o
tipo da pala no olho, como diria a outra do Secret Story] e Pessoa dar voltas na tumba, e que
está tão perto de chegar ao Nobel da Literatura como o Sporting de ganhar o
campeonato, tece diversas considerações pouco simpáticas sobre as mulheres com
excesso de peso. De entre as quais destaco as seguintes pérolas:
As
gordinhas e as outras
(…) Ora acontece que a Gordinha é geralmente
gorda e sem formas, tornando-se aos olhos masculinos pouco apetecível, a não
ser em noites longas regadas a mais de sete vodkas, nas quais o desespero
comanda o sistema hormonal, transformando qualquer bisonte numa mulher sexy,
mesmo que seja uma peixeira com bigode do Mercado da Ribeira.
A Gordinha é porreira, é fixe, é divertida,
quer sempre ir a todo o lado e está sempre bem-disposta, portanto a Gordinha
torna-se uma espécie de mascote do grupo que todos protegem, porque, no fundo,
todos têm um bocado de pena dela e alguns até uma grande dose de remorsos por
já se terem metido com a mesma nas supracitadas funestas circunstâncias. E é
assim que a Gordinha acaba por se tornar muito popular, até porque, como quase
nunca consegue arranjar namorado, está sempre muito disponível para os mais
variados programas, nem que seja ir comer um bife à Portugália e depois ao
cinema.(…) 
E quanto às Gordinhas, o melhor é arranjarem um namorado. Ou uma dieta. Ou as duas coisas (…)”.

“O Esplendor da Carne

(…) O que se passa
com este país? Porque é que há tanta gente anormalmente gorda? Não acredito que
todos tenham distúrbios hormonais – e recordo uma personagem mítica do
clássico Crónica de uma Morte Anunciada, Maria Alejandrina Cervantes, a
facilitadora de serviços sexuais da aldeia, para quem comer sem medida sempre
foi o seu único modo de chorar. Maria Alejandrina comia costeletas de vitela,
lombo de porco e galinha ao pequeno-almoço, tudo isto acompanhado de banana e
legumes, à turca, deitada em cima da cama, lânguida e sempre pronta para
amar.  «Senti
o cheiro perigoso do animal do amor atrás de mim e senti que me afundava nas
delícias das areias movediças da sua ternura»
 – escreve o autor, fazendo-me pensar que os
gordos possuem encantos sexuais que desconheço
. (…)”.
Eu não sou falsa púdica. Adoro ser magra, cultivo uma
silhueta XS, vou ao ginásio, tenho algum cuidado com o que como, e gosto de ser
assim. Levanta-me a autoestima e sei que sou muito mais atraente aos olhares
masculinos do que se tivesse mais 30kg. Mas não posso deixar de referir que
estas duas crónicas da dita senhora são infelizes, ofensivas e de muito mau
gosto. Até eu me senti incomodada e peso 55 Kg distribuídos por 1, 70m. As
“gordinhas” não são mascotes. São mulheres como quaisquer outras que podem [e devem] sentir-se elegantes e atraentes. Assim como as
demasiado magras, com ar anoréctico. Dessas ninguém fala. Eu já estive algumas
vezes abaixo do peso e posso dizer-vos que é horrível. A dificuldade em encontrar
roupa, o ar esquelético refletido no espelho, os comentários das pessoas.
Enfim, o melhor é nem lembrar. E é por ter esta sensibilidade que acho que a Guidinha perdeu uma ótima oportunidade
para ficar calada [salvo seja] e questiono-me
como é que um jornal com a alegada credibilidade do “Sol” publicou duas
crónicas desta natureza. É a prova viva, meus caros, de que neste país existem
intocáveis. De que basta chegarmos a determinado patamar de visibilidade social
para podermos debitar as enormidades que bem entendermos, com a plateia a
aplaudir de pé. Triste país, este, em que a massa critica se encontra meio
defunta. Mas o Lobo não. Li um único livro [chamar-lhe obra seria incorreto] de Margarida Rebelo Pinto, o espetacular “Sei
Lá” e lamentei o tempo perdido. Foi este e o “Alquimista” do Paulo Coelho. Por
favor. Não me considero uma intelectual, mas o meu cérebro tem mais do que dois
neurónios. Isto não é o vale tudo. Para se publicar não basta estar vivo. Existem
padrões de qualidade. Mas o povão
papa tudo, infelizmente. Quanto mais
simples
, melhor. Não custa a digerir. Por isso é que esta senhora se pode “esticar
nas horas”, a seu belo prazer, e ainda levar umas palmadinhas nas costa. Mas a
culpa não é dela. É de quem alimenta o seu protagonismo. De quem compra os
livros e vai ao cinema ver os filmes baseados nas suas estórias [em jeito de Sex and The City mal amanhado]. Aposto
que na hora de arrecadar os eurinhos não critica as gordinhas. Afinal, o
dinheiro é a “mascote” universal mais fixe do mundo. A esta senhora só tenho
mais uma coisinha a dizer: O tempo que passa a criticar as gordas podia ser investido
a ganhar um quilinho ou dois. É que, quanto mais emagrece, mais se nota o nariz.
Por isso, talvez o melhor fosse, sei lá, arranjar uma dieta. Ou um cirurgião plástico.
Ou as duas coisas. 

Deixa um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*