Sempre que penso nos Açores, tenho uma vontade terrível de apanhar o avião, e “voltar para a ilha”. Não sei se é pelo verde da paisagem, a imensidão do oceano, ou a simpatia das pessoas. Talvez seja pela qualidade da gastronomia, o facto é que, quando visito o arquipélago, sei que estou em casa. Na primeira vez que estive no paraíso sobre o mar, que é a Ilha das Flores, tentei ir ao Corvo, mas o vento não permitiu. Felizmente, em Setembro ultimo, Neptuno sorriu-me, e, contra todas as previsões, lá consegui ir. Posso dizer-vos 5.75 leitores, que fiquei estarrecida com tamanha beleza.
A ligação entre as ilhas pode ser feita de avião, através da SATA, por, aproximadamente, cinquenta euros, mas, a melhor opção é o barco, que sai mais em conta O bilhete, de ida e volta, no Ariel, custa vinte euros, e pode ser comprado online. Existem alguns operadores locais que fazem a travessia, em semi rígidos, o que adiciona alguma emoção à viagem, que tem uma duração de quarenta minutos, se tudo correr bem. Tomar um comprimido anti enjoo é altamente recomendado, porque, a todo o momento, o pior pode acontecer.
O primeiro impacto com a ilha é emocionante, e, até, emotivo, uma vez que estamos numa dos locais mais remotos da Europa, cujo acesso não é propriamente fácil. Com seis quilómetros de cumprimento, por quatro de largura, possui 425 residentes, e uma única localidade: a Vila do Corvo. Foi oficialmente descoberta em 1452, por Diogo de Teive, apesar de algumas teorias indiciarem que a ocupação humana do local pode ser muito anterior.
Desde sempre, atacada por piratas e corsários, a história do Corvo encontra-se intrinsecamente associada à capacidade, descrita por Darwin, da adaptação da espécie ao meio. Com efeito, antes da criação do aeródromo, em 1983, devido ao mau tempo, os habitantes chegavam a ficar várias semanas sem qualquer abastecimento de bens alimentares, e só, muito recentemente, é que existe um médico residente. As difíceis condições de subsistência, levaram a que, ao longo do século XX, dezenas de corvinos emigrassem para a América do Norte. Dos 883 habitantes, registados no ano de 1864, hoje, restam pouco mais de quatro centenas, que amam, genuinamente, a vida na ilha, o que se sente, em cada recanto.
Com um ecossistema ímpar, a ilha foi classificada, em 2007, Reserva da Biosfera da Unesco. De facto, trilhos e sítios únicos não faltam, mas, o lugar de destaque é, sem dúvida, o Caldeirão, cratera vulcânica com 2,3 quilómetros de diâmetro, recortada pelo verde esmeralda da vegetação, que serve de pastagem às tradicionais vacas açorianas. Em Outubro, o Corvo transforma-se no verdadeiro paraíso para os observadores de aves, uma vez que recebe milhares de espécies exógenas, vindas das rotas migratórias da Europa e da América do Norte, pelo que não é aconselhável ir nesta altura, uma vez que a hotelaria e a restauração ficam sobre lotadas.
Para além do Caldeirão, cuja subida, a pé, exige alguma preparação física, já que implica uma subida, a pique, de mil e quinhentos metros, vale a pena explorar os dez quilómetros de estrada que a ilha tem para oferecer, por entre casas de pedra, moinhos de vento, vacas, hortenses, e um verde luminoso, a perder de vista.
Já na vila do Corvo, o centro de interpretação ambiental e cultural, e a Igreja de Nossa Senhora dos Milagres, são pontos de paragem obrigatória. Este é, também, o único local onde poderão tomar uma refeição quente, já que a ilha possui quatro restaurantes, próximos uns dos outros, onde carne e peixe fresco não faltam. Para quem quiser pernoitar, as únicas opções são o parque de campismo (durante o Verão) e a Guest House Comoro, unidade hoteleira com duas estrelas, e quatorze camas disponíveis, onde uma dormida custa, aproximadamente, sessenta euros.
Do ponto de vista gastronómico, uma das grandes especialidades, é o queijo, produzido artesanalmente. De sabor mais forte que o tradicional “queijo da Ilha”, fabricado em São Jorge, é uma excelente recordação para levar aos amigos e familiares, bem como as duas peças típicas do artesanato local: o gorro e a fechadura em madeira, que poderão adquirir na loja do centro de interpretação ambiental.
A visita ao Corvo, é, sem sombra de dúvidas, marcante, e inesquecível. Uma experiência única do que é realmente “ser-se açoriano”, já que as condições particulares da ilha fazem com esta mantenha a integridade e a originalidade que os ” fundadores” encontraram há mais de cinco séculos atrás. Espero regressar em breve. Até já, Corvo.
Olá Andreia
O texto está muito bonito, mas a Igreja é de Nossa Senhora dos Milagres
Muito obrigada, vou corrigir 🙂