“Eu sou Charlie”: O ataque que feriu a “tolerância” religiosa da Europa

Hoje é um dia triste. Há algumas
horas atrás, um grupo terrorista
atacou, em Paris, a redação do seminário francês Charlie Hebdo e matou doze pessoas. Incluindo o diretor,
jornalistas e vários cartoonistas que, há vários anos, satirizavam a sociedade global…
e o Islão. O mundo está em choque. Foi efetivamente uma barbárie, à qual nenhum
de nós pode ficar indiferente. Em Paris, Londres, Nova Iorque, neste preciso
momento, milhares protestam contra o massacre, considerado um grave atentado à
liberdade de expressão e aos direitos humanos. Até aqui, está tudo muito certo.
Concordo plenamente. No entanto, não posso deixar de salientar que a opinião pública
e a comunicação social parecem estar a
esquecer-se que a liberdade de cada um termina… quando a do outro começa. E
este pequeno pormaior foi descurado
pela redação do Charlie Hebdo. Não é
preciso ser historiador ou arqueólogo para saber que a Europa tem uma relação milenar
com o Islão. A ocupação muçulmana da Península Ibérica, que durou mais de
quinhentos anos, deixou-nos uma das mais importantes heranças científicas e artísticas
de todos os tempos, intrinsecamente marcada no nosso ADN cultural. Os números que
usamos todos os dias são “árabes”. Grande parte da orientação astronómica, aplicada
pelos navegadores portugueses, e que nos permitiu “dar novos mundos ao mundo”,
foi transmitida pelos navegadores muçulmanos do Indico. A própria Idade Média
pautou-se pelas inúmeras “Cruzadas à Terra Santa”, imortalizadas por Hollywood.
Nesta conformidade, já toda a gente deveria ter consciência, até por uma
questão de respeito e bom senso, que com Mahomet não se brinca. Nem com as
leis do Corão. São sagradas, ponto final. Até o dinheiro, para um crente nesta
fé, é sagrado, porque pode conter o nome de
Allah
, “único Deus, e Mahomet o seu profeta”. Mas a cena do Estado Islâmico até está na moda. É cool e irreverente insultar a fé de cada um. Estes cavalheiros
puseram-se literalmente a jeito para o que aconteceu hoje. A sede por
protagonismo, mascarada de “corajosa guerra santa pela liberdade
de expressão”, acabou mal. Pelo caminho, deram um forte incentivo à intolerância,
à raiva, e à descriminação, num mundo que se deveria reger pelo respeito e pela
pluralidade de crenças. Por tudo isto, é realmente um dia triste. Mas, mais
triste é pensar que, again and again,
o velho continente está a ser cínico,
parcial, e a olhar, apenas, para uma face da moeda. De tudo o que poderia dizer
só me ocorre a frase, de Jorge Santayana, que inicia a visita ao Campo de
Concentração de Auschwitz: “ Aqueles que não conhecem a História estão
condenados a repeti-la”. 

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