As (novas) relações amorosas do século XXI – Lobo, o último dos Românticos

A minha avó ensinou-me que o objetivo
de vida de toda a menina de família, criada para ser uma mulher honesta, devia
ser: “formar-se”, arranjar um bom marido [rico, de preferência], ter filhos e, o mais importante de
tudo: “nunca envergonhar a cara aos pais”. A minha mãe sempre me disse que, na vida, o principal era construir uma carreira, e, só depois, arranjar um rapaz
decente e constituir família. Não por questões sociais, mas para não correr o
risco de “chegar a velha e ficar sozinha”.
Hoje, com 32 anos, olho à minha volta
e constato que a maior parte das minhas amigas já teve filhos, mas não se
casou: “juntou-se”. O “companheiro” ocupou o lugar do “marido”, mas sem papel
passado. Legalmente, quase todas são “mães solteiras”, porque dá jeito no IRS.
E porque: “em equipa que ganha não se
mexe. Quem vive muito tempo junto, e depois casa, divorcia-se ao fim de pouco
tempo. É o que dizem e o melhor é não arrisca
r”. Estas são as novas
relações do século XXI. O casamento passou de moda, mas a necessidade de ter filhos não. Dar o nó é
caro, implica [em teoria]
um compromisso para a vida e, se a coisa correr mal, dá direito ao estado civil
de “divorciado” no Cartão de Cidadão. E quem é que quer ser “divorciado”? Quem
é que, legalmente, quer ser tratado como o falhado
que tentou viver uma história de amor, ao jeito dos contos de fadas, e estragou
tudo? Ou pior, foi trocado. Que coisa tão unfashion.
Mas quanto a ter filhos fora de uma união civil, ninguém se questiona. Há umas
décadas atrás, estas crianças eram consideradas ilegítimas. Era uma vergonha
para a família. Felizmente as mentalidades evoluíram. É normal. O século XXI abriu portas a que os agregados fossem
compostas por pai/mãe, o/a companheiro/a, o filho do pai, o filho da mãe e o
filho [não,
não vou escrever isso que estão a pensar]
dos dois. É curioso. E, não raras vezes, mesmo vivendo juntos há muito tempo,
os conjugues continuam a tratar-se
por namorados, tal como escrevi neste post. Esta é a parte que me faz confusão. Muita confusão.
Considero-me uma mulher do meu tempo,
com a mente aberta. Estudei, viajei, tenho uma vida dita normal, mas considero
que os valores de família se estão a perder. E a noção do que é o amor também. As uniões já “não
são para a vida”, o casamento é quase uma memória antropológica, as alianças
peças de Museu, e os meninos já não dizem na escola que “o pai é o marido da
mãe”. E não é pela falta do “papel passado”. É pela forma como se encara a
pessoa que partilha a vida connosco. Sem nos darmos conta, estamos a construir
uma sociedade de futuros velhos solitários. Em que ninguém está para aturar “as
merdas de ninguém”. Em que as pessoas se esquivam de assumir compromissos para a vida, e começam um relacionamento
amoroso com olhos postos no dia em que o mesmo vai terminar. Porquê? Por medo
de ser magoado? Por comodismo? Por desconfiança? Por questões burocráticas e
legais?

Tenho dificuldade em responder a estas
questões, mas ainda acredito no casamento (com ou sem papel passado). Ainda
acredito que o “pai é o marido da mãe”. Ainda acredito que o [anel
de] diamante é o símbolo
do amor eterno, e que a aliança sela um compromisso para a vida. Será o Lobo o último
romântico? [Já cantava o saudoso Tony de Matos: “Eu sou romântico. E
toda a minha vida fui romântico (…) e cada cantiga agora é um cântico]. 

One Comment

  1. Para não variar mais um excelente texto 🙂
    A poucos dias de comemorar 7 anos de casada entre altos e baixos ainda soa-me bem a palavra marido. A família para mim é tudo e ter a minha é simplesmente perfeito mesmo com todas as suas imperfeições.
    Apesar de todo o trabalho, e que trabalho que dá ceder, partilhar, desculpar (tudo aquilo que adoramos que nos façam, mas muito difícil de fazer) tenho pena que hoje a palavra família já não tenha a mesma força nem tao pouco o mesmo significado. Enfim… Parece que o lobo ainda não é o único romântico, mas estamos a desaparecer, qualquer dia oferecem-nos uma jaula envidraçada para visitas ao passado, e proteger a expecie da sua extinção 😉

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