Quase sem darmos por isso, Mandalay toma conta de nós. Envolve-nos com uma magia que nos faz querer voltar, mesmo sem termos saído, como na metáfora do poema do Kipling, “Road to Mandalay”, que não me canso de mencionar. A magia dos tempos, a simpatia das pessoas, o ambiente exótico, com o toque das construções inglesas do século XIX, criam uma atmosfera única, que nos fez arrepender, amargamente, por termos reservado, apenas, um dia completo para conhecer a cidade. Malvado Lonely Planet. Talvez por isso, tenhamos aproveitado, intensamente, cada segundo. Assim, quando saímos da oficina de artesanato que referi na primeira parte da crónica, apesar de cansados, cheios de calor, e a morrer de fome, optámos por continuar o nosso percurso.
A paragem seguinte aconteceu na Hsinbyume Pagoda. Também conhecida como Myatheindan Pagoda, foi construída em 1816 pelo rei Bagyidaw, em memória da sua primeira esposa, a princesa Hsinbyume, que morreu no parto, e cujo nome, traduzido à letra, significa “princesa do elefante branco”. Destacando-se, na paisagem, pela beleza das formas, é composta por sete terraços envolvidos em ondas que, de acordo com a mitologia budista, representam as sete cadeias de montanhas que circundam o monte Meru, nos Himalaias, o centro cósmico desta religião. Em excelente estado de conservação, o templo encontrava-se repleto de crentes, que ficaram intrigados com a nossa presença, e não se coibiram em pedir à minha cara metade para pousar para as fotos. Afinal, um homem português, alto, bonito e de barba, não anda, propriamente, a dar sopa por Myanmar “a fora”.
Hsinbyume Pagoda
Morada: Sagaing – Mingun archeological zone, Mandalay.
Website: Renown Travel
Horário: Durante o dia.
Preço da entrada: 3 euros (5000 Kyats) – Inclui o acesso aos restantes sítios arqueológicos da zona.
A paragem seguinte aconteceu na Mingun Pagoda, também conhecida por Mantara Gyi Pagoda. Situada a cerca de dois quilómetros da Hsinbyume Pagoda, foi edificada, em 1790, por iniciativa do rei Bodawpaya. Projectada para ser o maior templo do país, com 152 metros de altura, foi o símbolo da excentricidade e megalomania do monarca, o qual usou, na sua construção, a mão de obra de milhares de prisioneiros oriundos das guerras com os reinos vizinhos. Guardada por duas impressionantes estátuas de leões, com vinte e nove metros de altura, no ano de 1797, a sua construção foi abandonada, já que, de acordo com uma profecia, o reino do Myanmar chegaria ao fim, caso a pagoda fosse concluída. Apesar do visível estado de ruína, este não deixa de ser um complexo deveras impressionante, quer pela sua grandiosidade, quer pela uma envolvente mágica do rio Irrawaddy, pautada pelas dezenas de monges e peregrinos que entram no templo para venerar a imagem Buda que se encontra no interior, e que não nos foi permitido fotografar.
Outro aspecto interessante do templo é o sino gigante, o Mingun Bell. Com um peso de noventa toneladas em bronze, deveria ter sido instalado no topo da construção, mas acabou por ficar em exposição num pequeno pavilhão localizado nas imediações. Considerado o segundo maior do mundo, o seu exterior inclui a inscrição, em birmanês, “5555552”, referente ao peso do objecto, que é, deveras, impressionante. Nas envolvente, é possível adquirir roupas, comida e artesanato, a preços muito simpáticos e, devo confessar que acabei por me entusiasmar, pelo que não resisti, e acabei por comprar um conjunto de calças e camisola com elefantes, super fresco, de boa qualidade, que uso até hoje. Foi, então, que a minha cara metade me lembrou que não comíamos há horas e que tinha o estômago colado às costas, que é como quem diz: “Chega de compras. Está um calor horrível. Quero comer”. E, lá, seguimos, à procura de um restaurante decente, implorando ao nosso motorista para não nos levar a uma “armadilha para turistas”. Será que tivemos sorte? (Não fujam: To be continued).
Mingun Pagoda e Mingun Bell
Morada: Sagaing – Mingun archeological zone, Mandalay.
Website: Renown Travel
Horário: Durante o período da luz solar.
Preço da entrada: 3 euros (5000 Kyats) – Inclui o acesso aos restantes sítios arqueológicos da zona.
Viaje comigo pelo Myanmar:
Irrawaddy: Um rio de Bagan para Mandalay