Irrawaddy: De Bagan para Mandalay

Após uma estadia incrível, em que a magia de Bagan, e dos seus três mil templos, nos arrebatou por completo, decidimos fazer, por barco, a ligação até Mandalay, atravessando, ao longo de onze horas, o mítico rio Irrawady. Com 2170 km de cumprimento, é o maior do Myanmmar, e um dos mais importantes da Ásia, possuindo um ecossistema único, no qual, com sorte, pode ser possível observar o raríssimo golfinho cor-de-rosa ou o tubarão do Ganges. As outras opções eram o avião, que saía um pouco caro, cerca de 65 euros por pessoa, ou o comboio, cuja rede não é brilhante e a probabilidade de demorarmos um dia inteiro era muito elevada. Assim, inspirados pelo épico poema de Rudyard Kipling “Road to Mandalay”, embarcámos numa das viagens mais belas e sublimes das nossas vidas.

Não são muitas as empresas que fazem a ligação fluvial entre Bagan e Mandalay, pelo que, após alguma pesquisa no Tripadvisor, acabámos por optar pela Alliance Myanmar River Cruise. Com um serviço irrepreensível, os barcos são super confortáveis e a tripulação simpática e atenciosa. Aliás, como todos na Birmânia. Por doze euros, oferecem um serviço de primeira classe, que inclui pequeno-almoço e almoço, bem como uma espécie de tour pelos pontos mais importantes do percurso. No entanto, a calma, a beleza do rio, e a melancolia, são, sem dúvida, os ingredientes que tornam, esta, numa das experiências mais incríveis, e inesquecíveis, do Myanmmar. 

Por causa da maré, a viagem tem inicio pelas das cinco da manhã, momento em que é servido o pequeno almoço, acompanhado pelo espectacular nascer do sol sob os templos de Bagan. A luz no dourado das stupas, é de uma beleza de tirar a respiração. Contrariamente às nossas expectativas, os barcos são modernos, limpos e confortáveis, uma espécie de embarcações do Mississipi  saídas da série do Tom Sawyer, mas, na versão século XXI. Possuem ar condicionado, cadeiras confortáveis, casas de banho limpas (promaior super importante), bar, e vista panorâmica sobre o rio.

Durante o percurso, é-nos dada a falsa sensação de que o tempo parou, e de que há espaço para tudo. Os pescadores passam, calmamente, nas suas canoas. As crianças dizem adeus da outra margem. As águias pesqueiras voam incrivelmente perto do barco, deixando a descoberto a sua majestosa envergadura. Os agricultores cultivam os campos com juntas de bois. As mulheres lavam no rio. O verdadeiro Myanmmar, puro, simples, pobre, e sem filtros, é nos mostrado de forma sublime e crua, pelo Irrawady. 

O que poderia parecer, à partida, uma viagem longa e aborrecida, transforma-se num salto de cinco minutos, com tempo para conhecer os poucos turistas que nos acompanham (não mais de dez), número claramente insuficiente para um barco com capacidade para mais de cem passageiros, ler, e saborear a arte de fazer absolutamente nada. Como é  habitual nestas ocasiões, a tripulação tenta ganhar mais um dólar ensinando ao turista a fazer um turbante ou o colocar o sarong, pano usado pelos homens birmaneses como uma espécie de saia, demonstração que, dadas as circunstâncias, até tem a sua graça. 

Após onze horas de rio, a majestosa Mandalay, surge diante dos nossos olhos, com os seus setecentos templos dourados, e a majestosa “old Moulmein Pagoda”, do poema do Kipling, a dominar a paisagem. A viagem de sonho, por um dos mais emblemáticos, e míticos, rios do planeta, tinha chegado ao fim. Como todas as experiências únicas na vida, ainda, hoje, falamos nela, e, ainda há seis meses, nos serviu de comparação quando atravessámos o rio Mekong, no lado do Laos. Estava,pois, na hora de traçarmos a nossa própria “Road to Mandalay”. 

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