Os nossos Castelos estão a morrer

Tenho 36 anos, sou arqueóloga de formação, e trabalho, há quase quatorze, em gestão de património cultural edificado. Posto isto, e porque me considero uma pessoal sensível, e atenta, a estas questões, foi com grande horror, mas sem grande surpresa, que li a notícia sobre a derrocada de uma das torres do Castelo de Juromenha, no concelho do Alandroal. Mesmo apesar do evidente mau estado de conservação, e dos sucessivos avisos à tutela, nada foi feito, e a estrutura, com mais de sete séculos de existência, acabou por ruir. No entanto, ao classificar, em 1957, o referido Monumento como Imóvel de Interesse Público, o Estado Português reconheceu a sua importância histórica e cultural, tendo-lhe conferido um estatuto de protecção especial, que subsistiu até aos nossos dias, mas que só existe no papel. É triste, meus 5.75 leitores, muito triste. E não pensem que é caso único. De dia para dia, a cada pedra que cai, grande parte dos nossos Castelos morre mais um bocadinho, de uma morte lenta, agonizante, e, há muito, anunciada. 

De facto, o país está repleto de Juromenhas. Basta uma pesquisa rápida pelo google, e percebemos que outras fortificações congéneres, como o Castelo de Nourdar, em BarrancosA Torre de Menagem do Castelo de Beja; ou o Castelo de Montemor-o-Novo, cujo estado de degradação se pode constatar pelas fotos, tiradas no mês passado, estão, ou estiveram, muito recentemente, numa situação semelhante. Alias, basta sair do sofá, e dar um passeio pelo interior do país, para identificarmos dezenas de imóveis classificados a necessitarem de obras urgentes. Pela realidade que conheço, o cenário só não é pior porque as Autarquias locais vão investido, dentro das suas possibilidades, na conservação e reabilitação deste tipo de estruturas. Assim, meus 5.75 leitores, relembrando o célebre artigo do Jornal Expresso: “É a Cultura, Estúpido”, no qual se reiterava o peso deste sector para o desenvolvimento económico, e social, do país, apelo a que tomemos consciência da necessidade urgente em preservar os vestígios materiais de uma herança histórica, que faz parte integrante do nosso ADN. Por isso, dentro das vossas possibilidades, chamem à atenção de quem tem o dever efectivo de o preservar, para que as “Juromenhas”, acabem, de uma vez por todas. Num país, cujo maior estandarte é a promoção turística, o Estado a que chegou uma parte significativa nosso património cultural classificado, é, no mínimo, vergonhoso, e as gerações que vierem a seguir a nós, merecem conhecê-lo de outra forma, que não através dos hologramas do futuro. Palavra de #lobo. 

Deixa um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*