Vivemos num mundo, maioritariamente, machista, no qual é esperado que as mulheres sejam organizadas, saibam cozinhar e se dediquem às tarefas domésticas, quais fadinhas do lar. Já os homens, devem, desde tenra idade, treinar para se tornarem o próximo Cristiano Ronaldo ou num piloto de Formula 1. Basta dar uma vista de olhos pelas lojas de brinquedos, para constatarmos que estes estereótipos passam, desde cedo, para as nossas crianças, e, inconscientemente, acompanham-nas ao longo da vida.
De facto, de acordo com um estudo recente da Eurostat, a autoridade estatística da União Europeia, em Portugal, apenas 19% dos homens desempenha tarefas domésticas diárias, face a 78% das mulheres, ocupando o nosso país, o sexto lugar da lista em que os homens menos fazem. No lado oposto, é na Suécia e na Dinamarca que o género masculino mais contribui para a limpeza da casa, o que é no mínimo curioso: Os vikings “mauzões”, são, afinal, autênticas fadas do lar.
Naturalmente, que, se falarmos sobre este assunto com a maior parte dos homens que conhecemos, 99% vai negar. Ninguém gosta de admitir que, na realidade, é um parasita doméstico, encostado à desgraçada da esposa, que, para além de oito horas de trabalho diário, ainda tem que ir ao supermercado, limpar, cozinhar, engomar e tratar dos filhos. Enquanto o dito chega a casa, abre uma cerveja fresquinha e estica as pernas no sofá, a olhar para a Netflix.
No entanto, quando nos colocarmos no lado oposto, e confrontamos o lado feminino, nenhuma mulher vai reconhecer que, após anos a estudar, e a esforçar-se para construir uma carreira para não ser explorada no mundo laboral, consente que o calmeirão com quem partilha a vida, tire vantagem dos estereótipos sociais, e não faça a sua parte das tarefas domésticas. Mal comparado, é uma espécie de pobreza envergonhada, que toda a gente sabe que existe, mas ninguém quer admitir.
Conheço tantos casos assim. De mulheres que se matam todos os dias, a cuidar da casa, do marido, dos filhos, mantendo um emprego, porque o orçamento familiar precisa do seu ordenado, mas não é suficiente para contratar uma mulher a dias. São pessoas que não têm tempo para cuidar delas próprias, ir ao ginásio, ter um hobbie ou tirar um curso pós laboral. Em grande medida, acabam por ficar para trás, sem conseguirem progredir profissionalmente por falta de disponibilidade para estudarem para um concurso interno, ou se dedicarem a um cargo de chefia.
As nossas cidades, as nossas famílias, as nossas vidas, estão repletas deste tipo de pessoas. São os novos casos de exclusão/ exploração humana do século XXI, só que socialmente aceites. Daí, repetirem-se as situações de depressão e esgotamento. Não é à toa que os ansioliticos têm batido verdadeiros records de venda, e que, cada vez mais, as mulheres têm menos filhos para poder progredir na carreira. É que, apesar de não gostarmos de admitir, vivemos num mundo desigual e machista, onde cada uma se defende conforme pode. É triste, mas é verdade, já que a meritocracia tem muito que se lhe diga, e fundamenta-se em “oportunidades” absolutamente desiguais. Palavra de #lobo.
Crédito da Imagem: Humanity.
São tarefas do lar, pelo que se ambos são os donos da casa, então ambos terão que a manter limpa, cuidada, apresentável e onde se possa viver. Não há cá ajudas. Há trabalho em prole da boa convivência numa mesma casa.