Tinha prometido que a próxima crónica de viagem do blog seria sobre Pequim. Mas hoje comemoram-se 70 anos da libertação dos campos de concentração de Auschwitz e Birkenau. E como me poderia esquecer da viagem que fiz, com o meu irmão, ao Leste da Europa e que nos levou ao palco do maior extermínio em massa da Humanidade. Não vos vou mentir. A visita a Auschwitz não é fácil. Mas é necessária para compreender o que realmente aconteceu na II Guerra, e para que a memória não se perca. Se, ao inicio, estava numa de fazer as habituais piadas desagradáveis, como [perante um amontado de sapatos tirados aos judeus]: “Foi aqui que Judas perdeu as botas”, passados quinze minutos passou-me logo a vontade. A culpa foi da guia polaca que nos acompanhou, que fez o favor de tornar aquela hora e meia numa espécie de “jogo psicológico”. Ao descobrir que o nosso grupo tinha um alemão decidiu carregar e contar os detalhes sórdidos. TODOS. Ao fim de quarenta minutos gritei ao ouvido do meu irmão: “Diz a esta grande c*bra para parar com isto ou juro que me vou embora”. Estava quase a desmaiar. Pela primeira vez na vida, perdi as forças e senti-me desfalecer. A energia negra de Auschwitz estava a dar conta de mim. Afinal, julga-se que ali tenham morrido mais de três milhões de pessoas, entre judeus, ciganos, polacos, russos, espanhóis, gregos… Ninguém sabe ao certo os números, mas a tragédia foi grande. Por dia chegavam de comboio mais de 12 mil pessoas, recebidas por uma espécie de orquestra, uma verdadeira gentileza sórdida dos nossos amigos Nazis. Em seguida, era-lhes dito que iam tomar banho e acabavam por morrer, asfixiadas por gás para piolhos, nas câmaras. O fumo dos fornos que incineravam os corpos via-se a 40 km de distância. Toda a gente sabia o que lá se passava. À medida que seguimos o percurso da visita, é impossível não sentir o sofrimento e o medo daquelas pessoas. Até porque as salas estão forradas com os rostos dos “prisioneiros”, com a respectiva data de entrada e de “saída” do campo. Foram poucos os que se salvaram. Alguns resistiram dois ou três anos mas morreram pouco antes do dia da libertação. Quando os aliados chegaram haviam mulheres a pesar 27 kg na enfermaria. O terror. E a amiga polaca fez questão de contar TUDO ao pormenor. A grande vaca. Também fiquei a saber nomes de ilustres que bateram as botas no local, como a Anne Frank, que morreu de tifo em Birkenau. Para além disso, é exactamente como nos filmes: os cabelos, as malas, os sapatos, as estrelas de David que assinalavam quem era judeu, estão mesmo em exposição. Também é possível aceder aos fornos, às câmaras de gás e às “camaratas”, qual verdadeiro cenário da “Lista de Schindler” ou da “Vida é Bela”. Depois desta visita, a minha visão sobre a II Guerra e a História Contemporânea da Europa mudou totalmente. Ficou-me na alma e no coração. Não quero voltar, mas nunca mais me esqueço que lá estive. Vejam as fotos e julguem por vós.
Arqueóloga, viajante, apaixonada por sabores. Ler mais »