Crónicas da India # 7 – O Lobo no Taj Mahal

A Idade e o Alemão [vulgo
Alzheimer] não perdoam.
Por isso, peço muita desculpa aos meus 5.75 leitores, mas houve um lapso nas “Crónicas
do Lobo pela India”. Ou seja, ao contrário do que havia escrito, de Jaipur não seguimos para Varanasi, mas sim para Agra, com o intuito de visitar uma das
sete maravilhas do mundo: o Tah Mahal.

Reposta a verdade, e tal como havia
referido, a viagem foi feita de comboio, tendo durado cerca de quatro horas.
Se, no início, as famílias indianas que nos acompanhavam olhavam para nós com
ar desconfiado, ao fim de pouco tempo já faziam sinal para tirarmos fotos com
os filhos ao colo. Não fossem os milhares de insetos [nomeadamente
gafanhotos. Espetacular.],
que se colaram ao meu cabelo, e a viagem teria sido perfeita, já que a simpatia
e a hospitalidade indianas são inigualáveis.    
Em termos genéricos, Agra é uma favela gigante, criada em
torno do monumento mais belo e perfeito alguma vez criado pelo homem: o Taj Mahal. O nosso “Hotel”, de seu nome “Shyla”
[fixem
este nome para NÃO cometerem o mesmo erro que nós], ficava a 500 metros do dito, e era uma coisa indescritível.
Além de extremamente sujo, as “torneiras” tinham sido parcialmente comidas pelo
calcário, o que tornava um simples
duche uma tarefa hercúlea. Os lençóis já não deviam ser lavados desde os tempos
em que o Gandhi lutava pela independência da India. Felizmente tínhamos os
sacos cama, senão, desconfio que a viagem iria acabar ali, e que o regresso
seria feito dentro de um saco preto.
Logo que “assentámos arraiais”, a
nossa primeira preocupação foi comprar bilhetes para o Taj, já que não queríamos perder o nascer do Sol no seu interior. Após
algum tempo de gesticulação com um senhor que não falava um elefante de inglês,
lá compreendemos que, apesar de não fazer qualquer tipo de sentido, a
bilheteira ficava a cerca de 1km do Monumento, o que nos fez correr contra o
tempo. No entanto, o esforço valeu a pena, porque, às seis em ponto, hora da
abertura das portas, lá estávamos a usufruir de um momento mágico: O nascer do
sol no interior da mais bela das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, o qual
provoca um efeito único: a iluminação progressiva do mármore branco, de que é
feito o Monumento. Se alguma vez forem visitar a India, por favor, isto é algo
que têm M-E-S-M-O que ver, porque só acontece uma vez na vida.  
Construído entre 1630 e 1652, o Mumtaz Mahal, mais conhecido por Taj Mahal, foi edificado pelo Imperador
Mogol, Shah Jahan, como túmulo para a
sua amada esposa Arjumand Bano
Begum, rebatizada, após o casamento, como Mumtaz Mahal, cuja tradução significa literalmente
“A Joia do Palácio”. Falecida aos 39 anos, durante o nascimento do décimo
quarto filho do casal, dizem as crónicas que o Imperador ficou devastado com a
morte do grande amor da sua vida, tendo, como última homenagem, desenhado o Taj. Uma das grandes particularidades do
Monumento é ser totalmente simétrico sob todas as perspetivas, sem qualquer erro
ou falha na decoração. A obra demorou 22 anos a ficar concluída, rezando as
crónicas que Shah Jahan mandou cortar
as mãos a todos os trabalhadores para que, jamais em tempo algum, algo de tão
belo fosse feito pelo Homem. E deixem-me acrescentar que acredito, piamente,
que a sua vontade foi feita, já que o Taj
pode ser considerado a joia entre as joias e a pérola entre as pérolas. É tão
belo e tocante, que é impossível conter as lágrimas perante a perfeição dos túmulos
do Shah Jahan e Mumtaz, que, até ao final dos tempos, jazem lado a lado, como símbolo
de um amor eterno, que nem a morte destruiu [Humpff, Lobo piegas].  
A nossa visita foi tão mágica e
tocante, que é impossível contar por palavras, e nem as imagens falam por si.
Diz-se que estava prevista a construção, na outra margem do rio, de um túmulo
igual, mas em mármore preta. No entanto, a deposição do Imperador por um dos
seus filhos, impediu a sua construção.

De referir que estávamos tão cansados por
nos termos levantado às cinco da matina, que acabamos por nos deitar no chão do
complexo e adormecer profundamente. Ao acordar, estávamos completamente
rodeados por indianos a fotografar-nos, já que deve ter sido a primeira vez na
vida que viram sem-abrigos brancos. 

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