Já
há algum tempo que estou para vos contar uma história verídica que ouvi há uns
meses, e que me chocou profundamente. Envolve família, traição e morte [dava
quase uma novela da TVI],
e não, este post não é para rir. Há algumas
décadas atrás, existiram dois irmãos que trabalhavam, por turnos, na mesma
empresa. Também moravam perto um do outro, com as respetivas famílias. Um dia,
um deles apaixonou-se pela mulher do outro. O Amor foi correspondido. Sempre
que o irmão saía para trabalhar, esgueirava-se pela janela, e ia dormir com a
cunhada. O relacionamento durou quase uma década. Até ao momento em que ela
terminou. “As crianças estavam a ficar
crescidas. Alguém podia descobrir”. Ele não se conformou, mas aceitou. As
décadas foram passando, e o “Segredo”,
ficou guardado nas brumas do tempo e da memória. Até ao dia em que Ele teve um AVC. O BI dizia-lhe que já
havia passado as setenta Primaveras, e que poderia morrer a qualquer momento. Os
médicos também. Não queria levar, consigo, o “Segredo”. Era demasiado pesado. Apesar da aparente calma, a consciência
nunca o havia deixado em paz. Nas noites em que olhava para a esposa, que
sempre lhe havia sido dedicada e fiel, os remorsos atormentavam-lhe o
pensamento. “Como é que foste capaz de
lhe fazer uma coisa destas? Porque é que não assumiste? Porque é que não a
deixas-te em paz, para procurar um homem que a amasse e fizesse feliz? És um
cobarde”. O peso tinha que ser distribuído. Já não era capaz de o carregar
sozinho. Havia chegado o momento da redenção. Queria partir em paz. A esposa
ficou chocada, a cunhada já havia falecido, e o irmão nunca mais lhe falou. A
partir daquele dia, os filhos deixaram de saber quem era o pai. Mas,
contrariando as previsões dos médicos, [esses corvos da desgraça], não morreu. Sobreviveu, e a culpa
estava à sua espera. Sorria-lhe como a Serpente sorriu a Adão, antes da
expulsão do Paraíso. E tinha que ser carregada. Penosamente, em frente à
família, aos vizinhos, aos amigos, aos conhecidos, e aos desconhecidos. A
esposa não resistiu. Entrou em depressão, e morreu, poucos meses depois. Deixou
de comer. Não conseguiu entender como é que duas pessoas, que tanto amava, e em
quem confiava, a tinham conseguido trair e enganar durante décadas. Logo ela,
que sempre havia sido uma boa mulher, uma mãe exemplar. Uma boa cunhada.
Dedicou a vida a uma falsa causa. E o tempo para recomeçar já tinha passado.
Ele enforcou-se. A culpa transformou-se em doença, a doença em sofrimento. Não
aguentou. No dia em que colocou um cinto à volta do pescoço, teve a certeza de
que havia tomado a decisão errada. E que a vida lhe tinha, gentilmente,
retribuído. No momento antes de saltar, não se arrependeu de ter traído o
irmão. Não se arrependeu de ter amado uma má mulher. Arrependeu-se de ter
assassinado a certa. E, finalmente, viu-se confrontado com a redenção.
há algum tempo que estou para vos contar uma história verídica que ouvi há uns
meses, e que me chocou profundamente. Envolve família, traição e morte [dava
quase uma novela da TVI],
e não, este post não é para rir. Há algumas
décadas atrás, existiram dois irmãos que trabalhavam, por turnos, na mesma
empresa. Também moravam perto um do outro, com as respetivas famílias. Um dia,
um deles apaixonou-se pela mulher do outro. O Amor foi correspondido. Sempre
que o irmão saía para trabalhar, esgueirava-se pela janela, e ia dormir com a
cunhada. O relacionamento durou quase uma década. Até ao momento em que ela
terminou. “As crianças estavam a ficar
crescidas. Alguém podia descobrir”. Ele não se conformou, mas aceitou. As
décadas foram passando, e o “Segredo”,
ficou guardado nas brumas do tempo e da memória. Até ao dia em que Ele teve um AVC. O BI dizia-lhe que já
havia passado as setenta Primaveras, e que poderia morrer a qualquer momento. Os
médicos também. Não queria levar, consigo, o “Segredo”. Era demasiado pesado. Apesar da aparente calma, a consciência
nunca o havia deixado em paz. Nas noites em que olhava para a esposa, que
sempre lhe havia sido dedicada e fiel, os remorsos atormentavam-lhe o
pensamento. “Como é que foste capaz de
lhe fazer uma coisa destas? Porque é que não assumiste? Porque é que não a
deixas-te em paz, para procurar um homem que a amasse e fizesse feliz? És um
cobarde”. O peso tinha que ser distribuído. Já não era capaz de o carregar
sozinho. Havia chegado o momento da redenção. Queria partir em paz. A esposa
ficou chocada, a cunhada já havia falecido, e o irmão nunca mais lhe falou. A
partir daquele dia, os filhos deixaram de saber quem era o pai. Mas,
contrariando as previsões dos médicos, [esses corvos da desgraça], não morreu. Sobreviveu, e a culpa
estava à sua espera. Sorria-lhe como a Serpente sorriu a Adão, antes da
expulsão do Paraíso. E tinha que ser carregada. Penosamente, em frente à
família, aos vizinhos, aos amigos, aos conhecidos, e aos desconhecidos. A
esposa não resistiu. Entrou em depressão, e morreu, poucos meses depois. Deixou
de comer. Não conseguiu entender como é que duas pessoas, que tanto amava, e em
quem confiava, a tinham conseguido trair e enganar durante décadas. Logo ela,
que sempre havia sido uma boa mulher, uma mãe exemplar. Uma boa cunhada.
Dedicou a vida a uma falsa causa. E o tempo para recomeçar já tinha passado.
Ele enforcou-se. A culpa transformou-se em doença, a doença em sofrimento. Não
aguentou. No dia em que colocou um cinto à volta do pescoço, teve a certeza de
que havia tomado a decisão errada. E que a vida lhe tinha, gentilmente,
retribuído. No momento antes de saltar, não se arrependeu de ter traído o
irmão. Não se arrependeu de ter amado uma má mulher. Arrependeu-se de ter
assassinado a certa. E, finalmente, viu-se confrontado com a redenção.