Aeroporto de Lisboa – O Terminal da Saudade

Quem me segue no instagram e no facebook percebeu que, na quinta-feira à noite, fui ao Aeroporto da Portela buscar
o meu irmão, que chegou de Londres, onde vive há mais de um ano, para uma curta
estadia em Portugal. Aconteça o que acontecer, o Natal é a festa da família.
Por isso estamos sempre juntos. Para não variar, o voo atrasou duas horas. Mesmo
assim não foi muito mau. Há três anos a espera durou sete. A neve reteve
os aviões em Bruxelas e tememos o pior. Enquanto esperava, observei as pessoas à minha volta.
Dezenas de famílias, cheias de expetativas e saudades. Uma mãe não via a filha
há mais de dois anos. Estava a trabalhar no Brasil e só agora tinha reunido
condições para voltar a Portugal. Outro pai tinha o filho a estudar na Noruega
e contava a alguém o sacrifício em pagar o Erasmus, que
acreditava ser o passaporte para um futuro melhor. Uma senhora esperava pelo
marido que trabalhava nas obras em Angola. Ouvi-a confidenciar a uma amiga [?] que suspeitava que ele tinha lá
outra. Talvez até com filhos. Mas não estava em condições de terminar o
casamento. Precisava do dinheiro. Sozinha não conseguia pagar as contas e a
faculdade dos miúdos. Desinteressei-me das conversas quando o meu telemóvel
vibrou. Era um WhatsApp a dizer: “Aterrei”. Levantei-me e acampei ao pé da
rampa da “Martini”. Obviamente que seria a primeira a beija-lo. À medida que os
passageiros dos outros voos chegavam, os gritos de alegria multiplicavam-se. Misturados
com lágrimas. Todos nós sabemos que os dias são curtos para tantas saudades. Mas,
ainda assim, é melhor do que nada. De repente, o Aeroporto encheu-se de malas,
presentes e muitas histórias para contar. As crianças corriam, entusiasmadas,
para os braços dos avós, dos tios, dos familiares. Dois gémeos, vestidos
de mini Pai Natal, fizeram as delícias dos presentes. E a minha vez nunca mais
chegava. Pela roupa dos passageiros tentava, em vão, perceber a origem do voo.
Mas ele já cá estava. Isso era certo. Essa já ninguém me tirava. E, de repente, chegou. Com um sorriso rasgado nos lábios. Estava exatamente como o
deixei em Setembro. Parecia que tinha sido na véspera, mas foi há
três meses. O meu pai abraçou-o. Já não se viam há um ano. Estiveram ambos
fora. O trabalho tem destas coisas. A alegria que vi nos olhos dos dois foi inexplicável.
O Terminal da Portela é pequeno para tanta saudade. Agora, só nos resta aproveitar.
Daqui a pouco já estamos de volta para o ver partir. 

Deixa um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*