A Naifa – O Concerto que me lavou a alma

Até pode não parecer, mas sou um ser sensível. A arte eleva-me o espírito. A cultura alimenta-me a alma. Era uma noite chuvosa, regada por uma má noticia: alguém conhecido tinha perdido a batalha contra a “doença prolongada”. No Cineteatro João Mota, em Sesimbra, os Naifa já tocavam os primeiros acordes. Sentei-me. Nunca os tinha visto ao vivo. A expectativa era grande. Ao meu lado alguém tremia de frio. Tapei-lhe as mão com o cachecol. Olhei para o palco. À minha frente estava a banda do imortal João Aguardela, envolvida pela majestosa voz da vocalista, Maria Antónia Mendes. Pela sala, ecoavam os acordes da guitarra portuguesa, dedilhada como ninguém pelo eterno “Peste & Sida”, Luís Varatojo. Quando voltei a mim, já tinha passado mais de uma hora e o concerto estava a chegar ao fim. “Como é possível?”, pensei. “O meu cérebro diz que  começou há cinco minutos”. Tinha-me deixado embarcar na viagem pelo que de melhor existe na musica portuguesa. Amália Rodrigues, Ary dos Santos, GNR, Dead Combo, o próprio João Aguardela, que foi chamado e saudado pelo público, passaram por ali. Maria Antónia Mendes fez questão de lembrar que, no 25 de Abril de 2008, os Naifa tinham tocado naquele mesmo palco, num concerto que os marcou para sempre. Foi um dos últimos da vida do mentor da banda, antes de ser levado pelo maldito cancro. O público aplaudiu de pé  e implorou por mais. Eu agradeci. Há muito que não ouvia um som tão bom e tão profundo, a ponto de me tocar a alma. Retive a mensagem: “A verdade apanha-se com enganos”. Olhei em frente e vi o Aguardela. Os imortais não morrem, e aquele palco será para sempre seu.  

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