Esta é uma sensação que, cada vez mais, se tem tornado numa certeza, e passo a explicar o porquê desta minha espetacular conclusão: a primeira vez que estive na China, o meu irmão avisou-me para ter cuidado com os chineses, já que o civismo é algo que não lhes assiste. São incapazes de segurar a porta para quem vier a seguir, de respeitar a sua vez na fila, e não têm o menor escrúpulo em dar um encontrão a quem quer que seja para passar à frente. Confesso que, ao início, este modus operandis me fez alguma confusão mas, com o tempo, acabei por me habituar [a ponto de quase me engalfinhar com um chinoca no chek in do aeroporto de Hong Kong]. Quando voltei às terras do Camões, a primeira coisa que me recordei foi do quanto aprecio o cavalheirismo à antiga. Do charme que é ver um gentleman abrir a porta a uma senhora ou deixa-la entrar primeiro. São gestos sem preço. No entanto, infelizmente, o cavalheiro é uma espécie em vias de extinção. Mais rara que o bom gosto dentro da Casa dos Segredos. Parece que, de repente, vieram os chineses e tomaram as vezes dos nossos gajos. A evolução humana fez com que o Homem do Século XXI tivesse retrocedido para uma espécie de troglodita das cavernas que se está perfeitamente a marimbar [cagar] para estes pequenos gestos de atenção e simpatia. São os primeiros a entrar e jamais se lembram de ter a delicadeza de nos abrir a porra da porta. E nem estou falar da do carro, porque essa, então, é uma memória perdida algures no tempo dos Afonsinhos. E com isto não os estou a chamar de mal-educados. Apenas a frisar que, na sua grande maioria, pura e simplesmente não têm o hábito destes pequenos gestos que, no fundo, todas nós adoramos, e que, quando acontecem, até estranhamos. Por mim falo. Claro que existem honrosas exceções, mas não passam de uma raridade neste mundo de Neandertais. Leiam o Lobo, Homens do meu País. Comportem-se como cavalheiros, e não como chineses, e vão ver que a probabilidade de encontrarem a vossa princesa aumentará exponencialmente. Ou, então, não. Bahhh. Esqueçam o que acabei de escrever. É que, partindo do princípio que os opostos se atraem, o que elas querem mesmo é um brutamontes, sem modos, a cheirar a cavalo. Todas, menos o Lobo, que faz jus a anos de aulas de História e continua a preferir os clássicos, sempre bonitos e fiáveis.
Arqueóloga, viajante, apaixonada por sabores. Ler mais »