Caros 5.75 leitores, quem me segue, sobretudo no Instagram, sabe que tenho uma profunda paixão pelo meu gato, o Calígula, mais conhecido por Gugu Manuel. Abandonado, em 2014, à sua sorte, na rua dos meus pais, miava, desesperado, atrás de quem passava, numa verdadeira agonia. Confesso que ouvi uma, ouvi duas, ouvi três, não fui capaz de o deixar, e acabei por o adoptar. Após os testes ao FILV e FELV darem negativo, foi esterilizado e operado a uma brutal infecção na boca. Desde então, passámos a ser os melhores amigos, e a viver um para o outro.
Há quatro anos, quando fui morar com o meu Amor, passámos a ser a família perfeita, com o Gu a encher as nossas vidas de sorrisos e momentos felizes. “Eu, tu e Gu”, tornou-se no nosso lema, com o “gordinho malvado” a ocupar cada milímetro dos nossos corações. Na sexta-feira passada, depois de uma semana extenuante, cheguei a casa, fiz o melhor jantar, e caí, podre, no sofá a ver a netflix. Como de costume, o Gugu deitou-se no meio de nós, a ronronar, debaixo do seu reino de mantinhas.
Por volta das nove da noite, tentou subir para o meu colo, perdeu as forças, e caiu para o lado. Começou a miar desesperadamente, com a língua de fora com dores arrepiantes. Estava a ter um AVC. De imediato, ligámos para o veterinário que rapidamente o assistiu. Ficou internado com prognóstico muito reservado, e uma parte do corpo paralisada. Ficámos devastados. Voltámos para casa com o coração desfeito, e uma sensação horrível de vazio. No dia seguinte, contra todas as expectativas, as notícias eram animadoras: Tinha recuperado a consciência, bem como a sensibilidade na cauda e na pata. No Domingo, a recuperação era evidente. Até o veterinário, que não nos tinha dado grande esperanças, ficou surpreendido.
Infelizmente, na segunda o Gu piorou, e, na terça, decidiu que o tempo dele connosco tinha chegado ao fim. Ficámos arrasados. Foi um dos piores dias das nossas vidas, e devo confessar que ainda estou incrédula ao escrever estas palavras. Quando voltei a casa, um vazio enorme tinha-se apoderado de mim. O silêncio, a falta de um “miau” de um ronron, a horrível memória da perda do nosso bebé. Estava (a ainda estou) completamente devastada. Tinha duas escolhas: Ficar no sofá a chorar compulsivamente ou fazer algo útil, que me ajudasse a libertar o stress e a angústia.
A escolha recaiu sobre a segunda opção, e agarrei-me aos tachos. Fiz bolo, carne assada, salada quente de couve roxa com maçã. Enfim, cozinhei o mais que pude. A dor não passou, mas ajudou-me focar, necessariamente, nos cheiros e nos sabores, ao invés de na terrível sensação de depressão e vazio. Resultou melhor do que muitas terapias à base de comprimidos. Desde então, quando chego a casa, tenho feito o mesmo, e, devo confessar, que me sinto (mais) aliviada. Por isso, não posso deixar de recomendar, meus 5.75 leitores: Se alguma angustia assombra as vossas vidas, concentrem-se nos tachos. Vão fazer alguém feliz, e constatar que, por vezes, é mais eficaz e antidepressivo do que uma ida ao psiquiatra ou uma caixa de Xanax. Palavra de #lobo.
“À, sempre presente, memória de Calígula, o nosso eterno Gugu Manuel, muito amado pelos seus donos”.