Deli foi horrível. Para começar, a intoxicação alimentar quase acabou com o
Lobo. A febre, os vómitos, os desmaios, fizeram com que achasse literalmente
que ia morrer. Por outro lado, tivemos um problema gravíssimo com os bilhetes
do comboio. Apesar de terem sido reservados com um mês de antecedência, oito
horas antes da partida ainda não tínhamos recebido a confirmação. Após
sucessivas idas à New Delhi Railway
Station, em que o senhor do guichet
[já
tinha dito que A-D-O-R-O esta palavra?]
não nos dava qualquer explicação e nos encaminhava para um Posto de Turismo que
se encontrava encerrado, o desespero apoderou-se de nós. Em primeiro lugar, não
tínhamos plano B. Ir de táxi ou de autocarro estava fora de questão porque as
estradas indianas são horríveis, e o avião era caríssimo. Sem saber o que
fazer, perguntamos ao recepcionista do nosso Hostel
[o
tal que queria chamar o curandeiro para me salvar], se, por amor a Ganesh, nos poderia ajudar. Assim que
descobriu que o meu irmão vivia em Bangalore, criou-se uma afinidade entre os
dois que o levou a fazer um telefonema, e pufff. Fez-se, não o Chocapic,
mas três fantásticos e espetaculares bilhetes de comboio. (Nota: Para quem está
de mala aviada para a India, muita atenção aos transportes. Não se esqueçam
que, a esse nível, o país funciona mal, e, o melhor, é reservarem bilhetes na
quota para estrangeiros, que são mais fiáveis).
e foi feita em 3ª classe. As camas [vulgo tábuas] eram razoáveis, e, por oito
euros, também não se podia pedir mais. Ao nosso lado viajou um simpático casal
sénior que quis saber tudo sobre a nossa vida, e que ficou muito intrigado por
o meu irmão ainda não me ter arranjado marido. [LOL]
das Índias”, seguramente está lembrado de Jaipur, a cidade Cor-de-Rosa, e a maior do Rajastão. Confesso que não estava no auge
da moral e da forma física para a apreciar convenientemente. Contudo, não deixei
que a febre levasse a melhor. O nosso HOTEL, sim, escrevo HOTEL em plenas
teclas porque, em toda a viagem, foi o único digno desse nome, o Sunder Palace era
realmente maravilhoso, apesar do preço um pouco elevado para standards indianos: cerca de 15 euros por
noite.
já os condutores de Rickshaw, o
célebre transporte indiano, gritavam à nossa volta, com ofertas de City Tours. O meu irmão, rapaz
pragmático e habituado a estas andanças, lá conseguiu negociar uma visita de
quatro horas por 600 rupias (cerca de nove euros). O Nosso condutor, de seu
nome Nana, tinha 75 anos e cabelo vermelho, pintado com hena, segundo o próprio para atrair as moças novas. Outro pormenor
curioso era o facto de não parar de mascar folhas de Paan misturadas com tabaco, o que lhe deixava os dentes, ou o que
sobrava deles, completamente vermelhos. Como prova da sua competência,
mostrou-nos fotos suas com turistas do mundo inteiro, bem como as mensagens de
agradecimento, demonstrando que o negócio do
Rickshaw também tem os seus segredos de marketing.
Como dispúnhamos de apenas de um dia útil
para visitar Jaipur, tivemos, com grande pena nossa, de abdicar do famoso Templo dos Macacos. A primeira paragem foi feita
no Jaigarh Fort, uma construção
do século XVIII absolutamente notável, com uma vista belíssima, onde o Nana nos
contou a história de um Imperador que caçava animais naquelas montanhas e, por
isso, foi amaldiçoado por um homem Santo, tendo morrido em agonia, após
chacinar todas as esposas. Ao nosso ar pouco crédulo, garantiu-nos que a lenda
era verdadeira porque lhe havia sido transmitida pelo avô, e que nos éramos uns
afortunados porque não estava escrita nos guias turísticos e só ele a poderia
contar. Mais um golpe do Rickshaw – Marketeer.
cruzamos com dezenas e elefantes e camelos, destinado ao transporte dos
turistas. Optamos por caminhar, já que não simpatizamos com a forma como,
aparentemente, tratam os animais. [E muito pessoalmente, já tinha andado de elefante em
Bali e confesso que tenho algum receio].
Verdadeira pérola do Rajastão, foi construído entre os séculos XI a XVIII,
consistindo numa espécie de Medina Islâmica fortificada. A subida, acompanhada
por música muçulmana, e pelo cheiro da comida vendida nas ruas,
transporta-nos para um verdadeiro cenário das “Mil e Uma Noites”.
Encantadores
de cobras; vacas pintadas; pedintes, pessoas com balanças para nos pesarmos [Oi? WTF??] e vendedores de roupas e outras bugigangas, abundam
pelas ruas. O interior é absolutamente fantástico, com jardins lindíssimos e fontes de água, que tornaram a visita absolutamente inesquecível. Durante o percurso, fomos abordados por vários indianos que nos pediram para tirar fotos, o que nos fez sentir uma espécie de estrelas de Bolywood [ou curiosidades de circo]. A maior parte das atenções foi dirigida à nossa amiga polaca I., a qual, segundo nos contaram, é parecida com uma artista americana muito conhecida na Índia.
Pedinte, com a sua vaca sagrada
Outro ponto
que não podemos perder foi o Jal Mahal,
cuja tradução literal quer dizer “Palácio na Água”. Construído no meio do Lago
Man Sagar, data do século XVIII, e a sua beleza vai muito para além as
palavras. A calma, a paz e a tranquilidade que nos transmite, transformam-no na
mais bela pérola do Rajastão. E para entenderem o vos quero transmitir têm
MESMO que o visitar e tirar as vossas próprias conclusões.
Cor-de-rosa, passou, igualmente, pelo City Palace, onde estão expostos alguns dos maiores tesouros da cidade, e pelo famoso Hawa Mahal, ou “Palácio do Vento”, verdadeiro símbolo da região, e por uma tinturaria tradicional indiana,
onde comprei um Sari de cerimónia,
vermelho e dourado. Infelizmente, o Lobo combalido não conseguiu degustar as fantásticas iguarias gastronómicas do Rajastão, as quais, segundo os meus queridos companheiros de viagem, eram fantásticas. [Sorte para a avozinha do Capuchinho].